Polo Ecoturístico dos Lençóis Maranhenses
Relatório de Viagem Técnica
por Roberto M.F. Mourão, coordenador
Cenário do Desenvolvimento Turístico Regional (outubro 99)
A turismo “clássico” ou de “massa” em geral tem se desenvolvido de tal forma que a escolha dos destinos não inclui necessariamente as características peculiares locais relativas a cultura tradicional (artesanato, música, dança, culinária, etc) relacionadas em mesmo nível com meio ambiente (flora, fauna, cenários, relevo, hidrografia, etc). O normalmente que se nota é a uma grande superficialidade por parte de operadores e usuários (turistas) quanto a natureza e comunidades locais. É fundamental focar os aspectos socio-ambientais.
Face às belezas naturais regionais e, sobretudo, das diferenciadas e peculiares características do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, um “deserto com água”, com plano de manejo e infraestrutura de controle e de atendimento a visitantes a serem planejados e implantados, é possível observar o início de um desordenado, não-planejado desenvolvimento turístico nesta região do Maranhão, aparentemente não-sustentável ambiental e culturalmente, com tendências a apresentar especulação imobiliária.
Entendemos que se não houver, por parte dos governos federal, estadual e municipais, em parceria com comunidades regionais, uma urgente ordenação e controle do desenvolvimento, de forma a valorizar os patrimônios culturais, naturais e cênicos da região, corre-se o risco de pôr a perder importantes recursos disponíveis para o desenvolvimento de produtos (eco)turísticos. Sem a implantação de um Pólo Ecoturístico voltado para benefícios prioritários para as comunidades locais e regionais, corre-se também o risco de se perder, a curto prazo, oportunidades atuais e potencias.
Urge a necessidade de tomar providências imediatas em virtude da eminente implantação de via de acesso ligando São Luís a Barreirinhas, principal acesso aos atrativos e atrações regionais, programada para os próximos anos e que deverá reduzir a viagem terrestre das atuais 8 a 12 horas para 2 a 3 horas.
Considerando que todo tipo de turismo tem custos ambientais e/ou culturais, a facilidade de acesso poderá colocar este destino turístico, a curto e médio prazos, num situação de difícil controle e mitigação de eventuais impactos advindos da atividade turística.
Caracterização do Turismo Regional
Devido àexcessiva divulgação do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, a ocorrência de, ainda que reduzido, porém desordenado, fluxo de usuários, já apresentando indícios de impactos ambientais e culturais.
A regra local é: quem tem um veículo 4x4 tem acesso ao Parque, uma vez que nenhuma forma de controle é feita e sem possibilidade de fiscalização.
A atual visitação é altamente sazonal, deixando poucos resultados econômicos para a comunidade local, pontualmente beneficiando diretamente somente alguns proprietários de bares, restaurantes e pousadas locais, com a maior parte dos resultados permanecendo nos pontos emissivos.
Destaca-se como principal emissor o Estado de São Paulo, em geral intermediado por operadores receptivos do Ceará. Os fluxos gerados por São Paulo, reconhecidamente o maior estado emissor de turismo nacional, puderam ser comprovados por diversas vezes durante a viagem, quando membros da equipe foram confundidos pela comunidade com “paulistas”.
É também evidente a “apropriação” pelo Estado do Ceará, dos atrativos maranhenses, não só com respeito ao Parque e entorno, assim como a região do Delta do Parnaíba, notadamente o destino Ilha do Caju, destino erroneamente (intencionalmente?) atribuído ao Piauí.
Dentro do futuro planejamento, especial atenção deverá ser dada a elaboração de mecanismos para aumento dos benefícios na região. Sem os devidos cuidados, ao invés de somar, o eminente fluxo turístico poderá desvalorizar o destino e em breve, gerar uma economia instável e excessivamente sazonal.
Já é possível notar sinais de poluição das águas, lançamento de lixo nas vilas e em locais de visitação, degradação ambiental pontual e desenvolvimento urbano caótico, resultantes da ausência de planejamento.
Vantagens Comparativas do Futuro Pólo Ecoturístico
Algumas vantagens comparativas que o destino apresenta:
- existência de unidade de conservação de uso indireto - parque nacional, mundialmente reconhecidos como indicadores de qualidade
- existência de outras unidades de conservação de uso direto na região - áreas de proteção ambientais, que possibilitam melhores chances de sucesso na proteção, ordenamento e controle do entorno do Parque
- ecossistemas regionais interessantes: restingas, manguezais
- real sensação de “isolamento”, considerado por aqueles que apreciam o turismo relacionado com a natureza (estimado entre 5 e 7% do total mundial do fluxo turístico, segundo o World Travel & Tourism Council) um fundamental atributo, onde o visitante pode sentir a sensação de se “isolar” das pressões do cotidiano urbano
- existência de vilas e comunidades tradicionais, acessíveis por meio de embarcações e de difícil acesso por veículos, ingrediente cultural importante e complementar aos atrativos naturais e cênicos
- possibilidade de roteiros por trilhas de baixa visitação
- relativa regularidade climática anual, permitindo um planejamento de atividades com maior chance de atender as expectativas de visitantes.
Desvantagens Comparativas do Futuro Pólo Ecoturístico
Algumas desvantagens comparativas que o destino apresenta:
- dificuldade de acesso a partir de São Luís
- infraestrutura turística básica precária e insuficiente
- infraestrutura sem normatização e crescente
- carência de mão de obra turística especializada (guiagem, hotelaria)
- existência de fluxos turísticos desordenados e sem controle, notadamente nas férias escolares (jan/fev/jul) e feriados prolongados
- descaracterização da cultura regional, potencializada pela cultura absorvida por meio da televisão, que introduz valores extra-regionais
- possibilidade de conflito entre turismo de veraneio x ecoturismo
- baixa qualidade dos serviços públicos urbanos - comunicações, energia elétrica, educação, saneamento básico, etc
- unidades de conservação sem planos de manejo/zoneamento.
Cenário observado na Região do Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
Polo Ecoturístico dos Lençóis Maranhenses
Relatório de Viagem Técnica outubro 1999
- Polo Ecoturístico LM - Viagem de Prospecção junho 1993
- Polo Ecoturístico LM - Viagem Técnica / Atividades
- Polo Ecoturístico LM - Alternativas de Desenvolvimento
- Polo Ecoturístico LM - Análise / Levantamento Preliminar
- Polo Ecoturístico LM - Análise / Prognósticos
- Polo Ecoturístico LM - Cenários do Desenvolvimento Turístico Regional
- Polo Ecoturístico LM - Proposta de Planejamento
- Polo Ecoturístico LM - Rio Preguiças
- Polo Ecoturístico LM - Orientações Veículos Off-road / 4x4
- Polo Ecoturístico LM - Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses
- Polo Ecoturístico LM - Agenda de Viagem 5 a 12 outubdo 1998